No meu ultimo dia de trabalho, lembro-me
que houve ameaças nos setores de produção e pedidos de desculpas no
escritório - desculpas essas que foram sem fidelidade alguma, pois acho
que alguém que tem a cabeça no lugar, não deve pedir desculpas de nenhuma forma.
Alguns empregos não merecem nosso empenho, nossa subordinação e
honestidade. Alguns empregos merecem apenas o bom e velho desprezo, e não
a humilhação por acharem que precisamos daquilo de fato. Somos dependentes
apenas de nós mesmo e ponto.
Da saída de lá ate o caminho de
volta para minha casa, perdi-me por atalhos que embora estivesse acostumado a
seguir não os reconhecia no momento. Ruas escuras, calçadas rachadas e placas
com nomes de pessoas que se foram. Nomes
esses que nem sonhavam que teriam alguma relevância tanto para mim quanto
para tantos outros passantes. Carros apressados indo e vindo, e sombras que
seguiam a passos largos. Sombras que procuravam espaços ocupados por algum
feixe de luz.
Ao chegar a minha casa, abri as
portas da frente, segui pela sala e fechei-me no quarto e anseie por alguma
inspiração. Queria dilacerar-me e despir-me de todo o preconceito literal que
hoje me incomodou tanto. Como nos tempos em que uma simples caminhada levava-me
a descrever situações comuns da vida. Pouco a pouco surgiu um breve vislumbre, velhos
anseios do meu coração vieram à tona, alguns e falta de criatividade se
calaram, e uma folha em branco, sozinha sem teoria surgiu.
Teias de aranha se formaram, num papel
que refletia bem o que eu estava esperando do futuro. Lençóis cinza, e a mesma velha
parede rachada e sem cor. O meu mundo tinha deixado de ser. O mundo não me
surpreendia, nem me assustava mais.
Apenas uma incerteza pairava sobre o que seria de um novo dia, tanta desconexão
de idéias, planos e fatos. O futuro tinha passado por aqui. O mundo ainda não
tinha sido realmente descoberto. Os laços entre as estrelas e os homens ainda
não se firmaram. E a silhueta uniforme de um novo começo apenas
permeará por ai.
Uma ideia de ruas e calçadas com cimento
seco surge: O mundo não é uma divisória de caminhos, não é aquele cimento seco
ser marcas de alguma criança que passou. O mundo é um pequeno caderno sujo, esperando
por um impulso de criatividade dum velho caminhante desajeitado, corcunda e cuja
tentativa de criar o seu destino nunca tenha sido feita pelo fato de não ter
tido a oportunidade de ter aprendido a escrever.
Nesse mundo unilateral, mesmo no
lado errado ele soube que na sombra de outrora reluziria cores para traçar o
seu destino.