quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sobre o nevoeiro.


No meu ultimo dia de trabalho, lembro-me que houve ameaças nos setores de produção e pedidos de desculpas no escritório - desculpas essas que foram sem fidelidade alguma, pois acho que alguém que tem a cabeça no lugar, não deve pedir desculpas de nenhuma forma. Alguns empregos não merecem nosso empenho, nossa subordinação e honestidade. Alguns empregos merecem apenas o bom e velho desprezo, e não a humilhação por acharem que precisamos daquilo de fato. Somos dependentes apenas de nós mesmo e ponto.

Da saída de lá ate o caminho de volta para minha casa, perdi-me por atalhos que embora estivesse acostumado a seguir não os reconhecia no momento. Ruas escuras, calçadas rachadas e placas com nomes de pessoas que se foram.  Nomes esses que nem sonhavam que teriam alguma relevância tanto para mim quanto para tantos outros passantes. Carros apressados indo e vindo, e sombras que seguiam a passos largos. Sombras que procuravam espaços ocupados por algum feixe de luz. 

Ao chegar a minha casa, abri as portas da frente, segui pela sala e fechei-me no quarto e anseie por alguma inspiração. Queria dilacerar-me e despir-me de todo o preconceito literal que hoje me incomodou tanto. Como nos tempos em que uma simples caminhada levava-me a descrever situações comuns da vida. Pouco a pouco surgiu um breve vislumbre, velhos anseios do meu coração vieram à tona, alguns e falta de criatividade se calaram, e uma folha em branco, sozinha sem teoria surgiu.

Teias de aranha se formaram, num papel que refletia bem o que eu estava esperando do futuro. Lençóis cinza, e a mesma velha parede rachada e sem cor. O meu mundo tinha deixado de ser. O mundo não me surpreendia, nem me assustava mais.  Apenas uma incerteza pairava sobre o que seria de um novo dia, tanta desconexão de idéias, planos e fatos. O futuro tinha passado por aqui. O mundo ainda não tinha sido realmente descoberto. Os laços entre as estrelas e os homens ainda não se firmaram. E a silhueta uniforme de um novo começo apenas permeará por ai.

Uma ideia de ruas e calçadas com cimento seco surge: O mundo não é uma divisória de caminhos, não é aquele cimento seco ser marcas de alguma criança que passou. O mundo é um pequeno caderno sujo, esperando por um impulso de criatividade dum velho caminhante desajeitado, corcunda e cuja tentativa de criar o seu destino nunca tenha sido feita pelo fato de não ter tido a oportunidade de ter aprendido a escrever.  

Nesse mundo unilateral, mesmo no lado errado ele soube que na sombra de outrora reluziria cores para traçar o seu destino.

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